Minas está na briga para receber o prometido investimento de US$ 12 bilhões da empresa taiwanesa Honhai, proprietária da Foxconn, que anunciou a construção de uma fábrica de displays no país, ainda sem local definido, com criação de 100 mil empregos, dos quais 20 mil seriam para engenheiros. A unidade tornará possível a montagem do iPad, da Apple, no país, com componentes nacionais. O Vale da Eletrônica, no Sul de Minas, é candidato para receber o aporte. “Naturalmente é uma região que pretende sediar esse investimento”, afirma o secretário estadual de Ciência e Tecnologia, Nárcio Rodrigues.
Minas disputa com dois estados: São Paulo e Rio de Janeiro. São Paulo é apontado como favorito, pois conta com duas unidades da Foxconn, uma em Jundiaí e outra em Indaiatuba. Ontem, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, afirmou que a fábrica deve ser instalada em São Paulo, mais precisamente em Jundiaí, mas não há nada acertado e a decisão deve ser comunicada apenas no mês que vem.
Já o Rio de Janeiro tem os bilhões de Eike Batista, que desde o fim do ano passado manifesta a intenção de trazer uma fábrica da Apple para o Brasil. Especula-se que a empresa taiwanesa deseja um sócio local, o que a aproximaria do grupo de Eike. Outro atrativo é o complexo do Porto de Açu, em São João da Barra, estrutura logística do grupo de Eike.
Porém, o secretário Nárcio Rodrigues aponta a localização estratégica do Vale da Eletrônica, no Sul do estado, na divisa com São Paulo, como um fator essencial. “Temos também oferta de mão de obra qualificada, com diversas universidades”, afirma. O secretário calcula, entretanto, que, pelo número de empregos gerados, “qualquer local que abrigar a empresa terá que preparar trabalhadores”. Além de receber a fábrica de displays, o secretário acredita que a região do Vale da Eletrônica pode desenvolver outras tecnologias para dar suporte ao complexo industrial. Somente em Santa Rita do Sapucaí o número de empresas de base tecnológica dobrou nos últimos oito anos, passando de 72 para cerca de 150.
Uma potencial candidata é a Fênix Indústria de Eletrônicos, em Santa Rita do Sapucaí, ativa na cidade desde setembro do ano passado. A fábrica emprega 500 funcionários e recebeu investimentos de R$ 37 milhões. A Fênix tem capacidade para cinco linhas de montagem, sendo que três estão prontas, e a quarta está em fase de conclusão e produz componentes como placa-mãe, modem, memória e placas para celular e smartphones. Nárcio Rodrigues também destaca a presença de outras grandes empresas em cidades próximas a Santa Rita do Sapucaí. É o caso de Itajubá, que conta com fábrica para montagem de helicópteros da Helibras, e de Extrema, onde a Panasonic está construindo uma fábrica de lavadoras de roupa e geladeiras.
COMPENSAÇÃO A fábrica da Foxconn, na visão de Rodrigues, pode ser uma compensação do governo federal por não ter mantido o compromisso da Petrobras na instalação da fábrica de ácido acrílico, em Ibirité, na Região Central do estado. A construção da unidade estava orçada em R$ 600 milhões. “A última visita do presidente da Petrobras (Sérgio Gabrielli) a Belo Horizonte jogou uma ducha fria nos planos do estado. Minas está sendo preterida”, afirma Rodrigues. Na análise do secretário, que até o mês passado era presidente do PSDB mineiro, a presidente Dilma Rousseff precisa mostrar que tem “carinho” por Minas. “Vamos levar essa questão para a negociação”, afirma.
Porém, o secretário ainda não tem detalhes. “Não sei como será a definição. Esse assunto brotou ontem (anteontem)”, ressalta. Rodrigues disse que se reuniu duas vezes com o ministro da ciência e Tecnologia, Aloízio Mercadante, neste ano e não foi informado sobre os planos da Foxconn. Foi Mercadante que fez o anúncio do investimento e disse estar negociando com a empresa taiwanesa há três meses. “Acredito que ninguém foi consultado, pois faltava a confirmação do investidor. Foi tratado em sigilo para não gerar expectativa e também não colocar a decisão em risco”, pondera Rodrigues.
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