sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Intraempreendedores: o motor da inovação nas organizações

Esses funcionários só conseguem desenvolver seu potencial se liderados por empreendedores



Diante do imperativo da inovação, algumas empresas, na busca do melhor caminho rumo à competitividade, depositam em seus funcionários a esperança de promover mudanças significativas nos negócios.

Mais do que funcionários eficientes, que realizam adequadamente suas tarefas, cumprem regras e se esforçam para atingir suas metas, as organizações modernas estão à procura de um novo tipo de profissional. Querem encontrar aquele que realiza mais do que é esperado dele, que não se sujeita a seguir regras que possam impedir suas realizações, que vai além de suas obrigações e responsabilidades, que não só gera grandes ideias, mas traz a capacidade de transformá-las em realidade. As organizações estão procurando intraempreendedores.

Quando se ouve a palavra ‘empreendedor’, logo se imagina o indivíduo que abandona sua carreira para perseguir o sonho de ter um negócio próprio. Quando são bem sucedidos nessa trajetória, notamos alguns traços comuns em todos eles: criativos, dinâmicos, auto-motivados, cheios de energia, persistentes, bem relacionados, articulados, inteligentes, dotados de visão do futuro, perspicazes e mais uma série de qualidades. Se pensarmos bem, essas são características de um empreendedor, mas não necessariamente de alguém que tenha um negócio próprio.

Sob esta perspectiva, é difícil acreditar que existam pessoas que tenham esse perfil empreendedor, mas não queiram ter um negócio próprio? Sim, elas existem, estão contentes com o mundo corporativo e querem continuar desenvolvendo suas carreiras. Essas pessoas são valiosas para as empresas e bastante raras, não importando em que lugar da empresa estejam. Pode ser uma simples iniciativa de uma secretária para resolver conflitos de agendamento das salas de reunião até um operador de copiadora que cria uma campanha para as pessoas reciclarem suas cópias em papel. O escopo de atuação do intraempreendedor abrange toda a empresa. Conheci um lixeiro de uma companhia de coleta que reduziu pela metade o tempo diário de coleta na rua. Conheci uma copeira que criou um blog na intranet da empresa para disseminar receitas e dicas domésticas. Claro, eles não vão revolucionar o negócio da empresa com essas pequenas iniciativas, mas o que vale é a cultura que permeia todo empreendimento, uma cultura que mostra que qualquer um pode fazer a diferença.

Quando essa cultura está instaurada, as pessoas trabalham de forma cooperativa, se responsabilizando umas pelas outras. Os líderes dão liberdade e autonomia para que seus subordinados inventem novas soluções para os problemas da empresa, os controles são deixados de lado quando ameaçam uma boa ideia, as pessoas ousam experimentar coisas novas e não são penalizadas se cometerem erros, problemas são vistos como desafios a serem superados e ninguém se sente constrangido ou intimidado por manifestar livremente sua opinião.

Como toda mudança cultural, injetar o DNA do empreendedorismo na veia corporativa é um processo longo e complexo. Existem empresas que tentam fazer isso há anos e ainda estão no meio do processo. O que os casos bem sucedidos têm em comum é o papel das lideranças, principalmente na média gerência. Não é difícil compreender esse fenômeno. São eles que protegem seus intraempreendedores dos entraves impostos pelo excesso de controle e burocracia, levantam os recursos necessários para fazer os projetos acontecerem, defendem e apadrinham as melhores ideias perante a alta diretoria, orientam os intraempreendedores sobre a estratégia corporativa e identificam as melhores oportunidades.

Isso pode fazer todo o sentido do mundo, mas na prática a dificuldade para fazer o gerente adotar essa postura é um desafio sem fim. Paradoxalmente, também é a postura dos gerentes que levam programas de intraempreendedorismo ao fracasso. Liderar intraempreendedores é um grande desafio. Eles são rebeldes, sofrem de excesso de auto-confiança, não se inibem em expor as feridas que todos querem esconder na organização e chegam a ser arrogantes em muitos casos. Não é qualquer gerente que sabe lidar com eles. Muitos se sentem intimidados pelos intraempreendedores ou pior, sentem que sua posição, seu cargo, seu status estão ameaçados. Não raro, vemos intraempreendedores sendo demitidos porque ousaram brilhar mais do que seus chefes. É por isso que eu costumo dizer: empreendedores só podem ser liderados por empreendedores.


Marcos Hashimoto – coordenador do Centro de Empreendedorismo do Insper (CEMP)


Fonte: Pequenas Empresas Grandes Negócios

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